Resenha: A Sombra do Vento
Existe prazer maior para um leitor apaixonado do que um
livro que fala sobre livros?
Eu sou suspeita para falar sobre esse tema, pois
amo textos ricos em figuras de linguagem, porque, na minha opinião, elas deixam
qualquer texto mais expressivo e interessante, já que a palavra não nos é
entregue de forma direta, mas passa através de uma expressão, carregada de
significados, que abre margem para uma interpretação diferente para cada
leitor, permitindo-nos criar um significado próprio para o texto, de acordo com
nossas vivências e experiências, participando de sua construção, o que de certa
forma, nos torna um pouco seu autor.
No caso de A Sombra do Vento, ele é um
excelente exemplo de uma figura chamada metalinguagem, que é o uso de uma
determinada linguagem para descrever a si mesma, e é exatamente isso que A Sombra
do Vento é, já que, o assunto principal do livro é um livro e o universo
literário.
Título: A Sombra do Vento
Autor: Carlos Ruiz Zafón
Ano: 2007
Editora: Objetiva
Páginas: 398
A Sombra do Vento narra a história de um jovem chamado
Daniel Sempere, que tem a sua vida transformada quando em suas mãos cai o livro A Sombra do Vento, do misterioso autor Julián Carax.
Fascinado pelo livro, Daniel começa a pesquisar sobre o
autor e suas outras obras, mas toda a história do escritor é envolta por
situações sombrias e que começam a se misturar com a vida de Daniel à medida que ele avança em sua busca por respostas.
Toda a narrativa nos remete a um clima de suspense e
mistério, num ritmo eletrizante, que nos faz querer avançar cada vez mais por
suas páginas para descobrir o final dessa intricada história.
Uma das coisas que mais gosto nesse livro é a descrição dos
ambientes, como o livro se passa na Espanha da primeira metade do século XX, o
autor consegue nos transportar no tempo e no espaço com lindas descrições
poéticas sobre os cenários de suas ações.
“As ruas ainda se desmanchavam entre neblinas e orvalho quando saímos. Os lampiões das Ramblas desenhavam, ao piscarem, uma avenida de vapor, enquanto a cidade se espreguiçava, libertando-se da sua fantasia de aquarela. Ao chegarmos à rua do Arco do Teatro nos aventuramos pela passagem do Raval sob uma arcada que prometia uma abóboda de bruma azul."
Eu acho lindo! Dá para fechar os olhos e imaginar a cena e o
lugar, o início da manhã, o dia ainda frio...
E um dos ambientes mais apaixonantes do livro é sem dúvida o
Cemitério dos Livros Esquecidos.
A descrição primorosa de um lugar misterioso onde
livros de todo o tipo são guardados e protegidos faz qualquer leitor
suspirar...
“Um labirinto de corredores e estantes repletas de livros se erguia da base até a cúspide, desenhando uma colmeia em cuja trama viam-se túneis, escadas, plataformas e pontos que deixavam adivinhar uma biblioteca gigantesca, de geometria impossível”.
Eu imagino |
o Cemitério dos Livros Esquecidos |
mais ou menos |
assim... |
Também é delicioso ler sobre o dia a dia de Daniel e seu
pai, já que eles trabalham numa livraria especializada em livros raros e eles
têm um grupo de amigos formado por livreiros amantes da literatura. É uma
delícia ler sobre nossa paixão e ver tantas referências aos clássicos!
Outro ponto forte do livro são seus personagens com personalidades muito interessantes. De todos os personagens, o que mais me cativa é o ex-mendigo Fermín Torres. Ele é uma pessoa super divertida, dotada de uma filosofia sem igual. Ele é o tipo de pessoa que todo mundo conhece alguém parecido, pode ser um tio, um amigo do pai... parece que a gente já o conhece e com seu carisma é impossível não se apegar a ele. Eu ri muito lendo todas as suas pérolas filosóficas e separei as melhores para vocês. Dono de uma sabedoria conquistada com a experiência da vida, Fermín sempre tem um conselho na ponta da língua quando o assunto é mulher. Veja essa pérola que ele solta incentivando Daniel a procurar uma moça pela qual ele está apaixonado: “Cortejar uma mulher é como o tango: absurdo, pura frescura. Mas é você o homem, e é você quem deve tomar a iniciativa”. [...] “Está pensando o quê? Poder mijar de pé tem que ter algum preço”. E ele continua, refletindo consigo mesmo: “Você está diante do enigma da natureza, Fermín. A fêmea, babel e labirinto. Se a deixar pensar está perdido. Lembre-se: coração quente, mente fria. O código do sedutor”. Outra ótima pérola do Fermín sobre as mulheres: "Não confie nunca nas que se deixam bolinar logo no início. Mas menos ainda nas que precisam que um padre lhes dê aprovação". Daniel e Fermín se envolvem numa série de aventuras à procura de informações sobre Julián Carax, mas remexer no passado pode ter um preço alto e eles colocam suas próprias vidas e a vida daqueles que amam em perigo. Cada capítulo é recheado de muito mistério, de histórias sombrias que vão se descortinando a cada novo lance. As revelações do enredo tornam o final surpreendente e emocionante. E no meio de tudo isso, acompanhamos, ainda, a transformação do menino Daniel em um homem, envolvido em paixões e literatura. A Sombra do Vento é uma leitura deliciosa, uma história de amor, mistério e amizade, que prende o leitor do início ao fim, daquelas que devem ser saboreadas sem moderação! Espero que tenham gostado da resenha e que vocês tenham ficado com vontade de saber os detalhes dessa envolvente e enigmática história. Em breve trarei para vocês um pouquinho mais da obra desse autor e de nossos heróis. Só para finalizar, vou deixar para vocês mais alguns trechos desse livro que demonstram a sensibilidade do autor, principalmente em descrever sua paixão pelos livros: "Cada livro, cada volume que você vê, tem alma. A alma de quem o escreveu, e a alma dos que o leram, que viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro troca de mãos, cada vez que alguém passa os olhos pelas suas páginas, seu espírito cresce e a pessoa se fortalece." (pg. 9) "(...) poucas coisas marcam tanto um leitor como o primeiro livro que realmente abre o caminho ao seu coração." (pg 11) E por último, uma frase que eu adoro e que é ótima para fazer uma reflexão diária: "As pessoas complicam a vida, como se ela não fosse suficientemente complicada" (pg. 60) Um beijo e até a próxima! |
7 comentários
Mila, adorei a resenha, vc captou a essência do livro. Zafon é um dos meus autores favoritos e A Sombra do Vento, um dos melhores livros que li, aliás acho que o melhor em termos de trama. Aguardo ansiosa sua resenha do Jogo do Anjo e Prisioneiro do Céu…e tomara que venha mais uma quarta resenha, pois tenho esperança que Zafon escreva mais um livro desta série. Bjoks
ResponderExcluirOii. Obrigada! Sabia que também fiquei pensando nisso, quero mais!! Não quero que acabe. A resenha nova já está no forno, venha conferir!
ExcluirMila, adorei a resenha, vc captou a essência do livro. Zafon é um dos meus autores favoritos e A Sombra do Vento, um dos melhores livros que li, aliás acho que o melhor em termos de trama. Aguardo ansiosa sua resenha do Jogo do Anjo e Prisioneiro do Céu…e tomara que venha mais uma quarta resenha, pois tenho esperança que Zafon escreva mais um livro desta série. Bjoks
ResponderExcluirAcho que nunca li nenhuma resenha negativa sobre esse autor, o que me faz ficar cada vez mais curiosa! Acho que comprarei em breve aalgum dele rs
ResponderExcluirAdorei a resenha ^^
ps: vi seu blog na lista do grupo no facebook, blogueiros literários! :D
Seguindo e curtindo :D
Beijinhos
http://www.interacaoliteraria.com/
Obrigada, Paula! Leia mesmo, você não vai se arrepender! Depois conte o que achou do livro! Bjusss
ExcluirCamila, ótima resenha! Admiro a maneira com que escreve sobre literatura, contagiando o leitor com seu entusiasmo! Orgulho da minha irmã nerd, ou melhor, irmã com alto quociente de inteligência!
ResponderExcluirIguinho, vc tem cada uma!! rsrs. Gostei muito da sua participação, apareça sempre! Bjuss
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